Em um lugar até agora desconhecido por você, ela acorda no meio da noite. Tem sonhos que não se pode explicar tal qual pequena rosa que é afligida pelos espinhos. Mas se ela não desejasse os espinhos, não teria escolhido ser rosa.
Dor. A dor explode em seu peito, o grito sufoca na garganta, ela cai de lugar nenhum e mesmo assim, não para de cair. Até que, recupera a consciência conseguindo retornar ao instante a que pertence. Seu ser vela em silêncio as lembranças loucas de um passado surreal. Guarda para si, algo que ninguém jamais pode saber. Pois isso seria... isso seria, ruim, no mínimo ruim.
É o que sempre se diz. Não se deve mexer com o desconhecido.
Digamos que certas coisas não devem ser mencionadas, porque, normalmente em noites como essa, nebulosas e frias é que eles retornam. Anie vislumbra para além da janela. O luar amarelado denota algo estranho no ar. O clássico arranhar de janelas faz com que os pelos de Anie se arrepiem, ela sabia muito bem o que tinha feito, e que ele viria buscá-la, afinal, ela o chamou.
Lembra de como tudo começou, com uma pequena curiosidade dum grupo de adolescentes. Ela era a mais nova dos três, enquanto Meridict, a caçula dos Brandows tinha cerca de um ano e meio a mais que ela. Além de Lee, que lhes contara sobre a Tábua Ouja, e seus mistérios. Mas que embasamento ele tinha, a não ser uma mera pesquisa na internet?
Três amadores, mexendo com coisas que sequer podiam imaginar. Nem as garotas acreditavam nas coisas que Lee falava, espíritos e demônios chamados por um copo e algumas letras, que tolice elas diziam.
Lee sempre tentara impressionar An, porém, suas tentativas foram infrutíferas. Dessa vez, a esperança de Lee era sua boa manipulação da Tábua Ouja, ele queria mostrar que não tinha medo de nada, nem dos supostos espíritos.
- Ele pode responder tudo que vocês quiserem.
- tudo, disse Mery
-absolutamente.
- eu duvido, indagou anie.
- a Anie tem Prova de matemática amanhã, por que não pedimos as respostas já que ela não estudou?
Lee, que via Anie como muito mais que uma amiga, aproveitou a deixa- Isso Anie, quem sabe assim você não nos comprova o poder dos espíritos?-
Imprimiram a Tábua Ouja encontrada num site sombrio. Quando todos colocaram seus dedos no copo, Lee falou para Anie começar a conversar com o espírito.
- Quem está aí?
O copo foi direcionando as letras, onde a frase se formou:
- A escuridão
Anie e Mary riram. Só podia ser coisa do Lee.
- eu quero as respostas pra minha prova de matemática.
- tem um preço
- qual?
- três coisas
Anie, com um semblante de dúvida, olhou aos outros dois na mesa. Lee estava lhe pregando uma. Só podia ser isto. Mas quando acabasse, Lee ia lhe pagar, já estava até a assustando, isso não era coisa de se brincar.
-Está bem, mas me diga que coisas.
- seus amigos, sua penitência.
Um súbito frio subiu por sua espinha. O medo gelou-lhe as veias.
-Que jogo idiota! agora quero minhas respostas...
Um a um, foram observando as respostas, de modo que lembrassem.
Naquela manhã Anie quase perdera o ônibus. Foi um sufoco, chegou atrasada a sala de aula e foi repreendida pelos professores. Por algum motivo Meredict não tinha ido à aula. Ia perder a prova. A professora, com ajuda de um outro aluno, distribuiu as avaliações. Ao receber a sua, puxou um pequeno papel do bolso, movida por sua imensa curiosidade. Assim, foi respondendo às questões.
O resultado da prova é algo que ela jamais irá esquecer. E o que aconteceu depois também.
Brincadeiras com forças desconhecidas podem ser maléficas para nossas vidas e nosso espírito.
A menina, ao fazer a prova, foi procurar seus amigos. Percorreu todos os lugares possíveis.Era a hora do intervalo, mas eles não estavam na cantina nem em suas salas. E quando ela chegou à biblioteca, já estava preocupada e ofegante. Eles não estavam em lugar algum.
Ao retornar à sua classe, Anie recebeu uma chamada de atenção da professora:
-Anie Stev por favor Venha aqui.
- sim prfessora?
- você acertou todas as questões An, esteve estudando muito? Porque se eu souber que você colou...
Anie desvencilhou-se de suas lembranças. Desde aquela semana sua vida tem se transformado em um sistema purgatório onde coisas muito surreais e insanas, passaram a ter sentido em sua mente.
- Era só um jogo, era só um jogo. Mas todos sabiam que não era um jogo, certo Anie?
O demônio, caçoando do olhar apavorado de Anie, apertava ainda mais a sua garganta, sua gargalhada grotesca assombrava até mesmo aos pequenos roedores que passavam no jardim, naquele instante.
Anie tremia. O medo e adrenalina começavam a tomar conta de seu corpo.
- a criatura grunia e bufava de acordo com que a garota tentava se livrar das mãos da fera, nada mais fazia do que poder se contorcer.
Assim, as lágrimas caíam do rosto da garota, assustada e desesperada como tal, suspiros de agonia escapavam de sua boca. Para que, em um choque, ser jogada contra a parede.
Então era que ela acordava. Seu travesseiro molhado de lágrimas, seu pescoço dolorido e sua voz contida. Fora sempre assim, e como ela dizia, seus sonhos eram pesados, e ela tinha imaginação fértil.
É o que sempre se diz. Não se deve mexer com o desconhecido.
E toda noite nebulosa, fria e de luar, o demônio vinha, para atormentar o espírito da pobre menina, e esta, subjugada estava, a pagar eternamente pelo simples erro de mexer com o desconhecido. Vagando entre os sonhos e a realidade, entre a vida e a morte, castigada por sua existência a ser torturada por aquele que não devemos mencionar o nome.
Quando você lançar um livro, me avisa, quero ser um dos primeiros a comprar...
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